sexta-feira, 26 de julho de 2013
Se o amor é para os parvos,
os parvos hão-de ser felizes. Falo-te assim
porque não me sinto sem culpa e sou o pai
dos filhos que fiz às próprias dúvidas.
Se o amor é para os parvos, irei ter com eles,
tocar-lhes o coração como quem lava as mãos e a alma, abraçá-los com os lábios, beijá-los
como sempre toquei as coisas simples: a abelha,
a espuma, a prata, o rosmaninho.
Se o amor é para os parvos, perante eles me dobro
como perante o vento se dobram as searas
e não sinto nas pálpebras o remorso
das noites que por amor passei em claro,
dos dias que por amor em mim deixei morrer
sem compreender mais nada: o rouxinol, a pedra,
o sol, a pétala, o verbo, o rio, o infinito.
Se o amor é para os parvos, sou parvo, sim, sou parvo,
um parvo profundo, obstinado parvo
cujo coração adormeceu diante da lareira do teu corpo,
alimentando-se da maior de todas as parvoíces:
o amor feito de fundas incertezas.
E são tantas!
Joaquim Pessoa
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