sábado, 22 de setembro de 2012



Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz

Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações

Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!


José Gomes Ferreira



http://youtu.be/EYQCPgAH8q0

Poema: José Gomes Ferreira
Musica: Fernando Lopes Graça


domingo, 2 de setembro de 2012



Como ele sempre dissera:
o rio e o coração, o que os une ?
O rio nunca está feito, como não
está o coração. Ambos são sempre
nascentes, sempre nascendo.
Ou como eu hoje escrevo:
milagre é o rio não findar mais.
Milagre é o coração começar sempre
no peito de outra vida.

Mia Couto




sábado, 1 de setembro de 2012



Palavra que desnudo

Entre a asa e o voo
nos trocámos
como a doçura e o fruto

nos unimos
num mesmo corpo de cinza
nos consumimos
e por isso
quando te recordo
percorro a imperceptível
fronteira do meu corpo
e sangro
nos teus flancos doloridos
Tu és o encoberto lado
da palavra que desnudo

Mia Couto