quarta-feira, 26 de outubro de 2011





E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. 

Fernando Pessoa 


terça-feira, 25 de outubro de 2011



Quem pudesse gritar para despertarmos!
Estou a ouvir-me gritar dentro de mim, mas já não sei o caminho da minha vontade para a minha garganta.

Fernando Pessoa

sábado, 22 de outubro de 2011



A solidão era eterna

A solidão era eterna
e o silêncio inacabável.
Detive-me com uma árvore
e ouvi falar as árvores.

Juan Ramón Jiménez

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Porque...



Porque deixei de gostar de piadas fáceis
Porque tenho saudades do nascer do sol,
da chuva, da Primavera e de sentir os pés na areia molhada
Porque amanhã é Sábado
Porque tenho saudades do riso e do abraço...
Porque....
Porque sim!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011



Pranto pelo dia de hoje...


Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insidias por venenos
E por maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que nem podem sequer ser bem descritas

Sophia de Mello Breyner Andersen

quarta-feira, 19 de outubro de 2011



No mistério do sem-fim

No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta

Cecília Meireles

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Teia...



E por vezes as noites duram meses


E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.

David Mourão-Ferreira

domingo, 16 de outubro de 2011



Os olhos continuaram a dizer coisas infinitas.
As palavras de boca é que nem tentavam sair,
e tornavam ao coração caladas como vinham...

Machado de Assis


Sonho...




Pus o meu sonho num navio

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

Cecília Meireles

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Poema...




Destruição

Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, reflectido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente. 


Carlos Drummond de Andrade

domingo, 9 de outubro de 2011


Por um olhar, um mundo

Por um olhar, um mundo;
por um sorriso, um céu;
por um beijo...não sei
que te daria eu.
 
Gustavo Adolfo Bécquer